quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pesquisa e economia


O incêndio e praticamente a destruição da base de pesquisas do Brasil na Antártida expôs uma realidade: os investimentos públicos em pesquisa andam caindo pelas tabelas. A agudez de um episódio que deixou dois mortos e comoveu o país talvez nos sirva de lição e alerta para a necessidade de se promover maior aporte de recursos públicos para pesquisa, bem assim de se estabelecer parcerias público-privadas com o mesmo fim.

Apesar de ser uma das economias mais importantes do mundo, o Brasil é um dos países com menor taxa de registro de patentes entre as nações mais ricas e de economias emergentes. Isso é resultado direto da ausência de recursos garantidos em orçamentos públicos, sejam do governo federal ou dos governos locais. É lamentável que não se olhe para a pesquisa científica como uma fonte de formação de ativos e de expansão econômica. Ainda mais quando sobejamente se sabe que o país só ampliou sua produção de petróleo em águas profundas em face de pesquisas ou ainda que a invejável posição como grande produtor agropecuário se deve à atuação da Embrapa e de seus diligentes pesquisadores.

Além da falta de recursos para pesquisa, tem-se ainda uma série de problemas gerenciais. Um deles está na ausência de uma rede de interlocução e compartilhamento de informações – aliás uma recorrência no Brasil, país em que bases de dados das polícias Judiciário e Ministério Público não estão interligadas, do mesmo modo como pesquisas desenvolvidas em universidades e outros centros de excelência não estão acessíveis a pesquisadores que estão desenvolvendo estudos similares. Isso resulta em desperdício de esforços e atrasos no aprimoramento de alguns conhecimentos.

É adequado, então, que além de mais recursos para pesquisas que possam se reverter em crescimento econômico e preservação de ativos ambientais, o país tenha um gerenciamento e uma logística do conhecimento que se está produzindo. Por gestão atabalhoada e falta de dinheiro, certamente poderemos pagar um preço elevado demais no futuro.

Como era bom aos domingos (I)


O texto alongado e apurado pertence ao literato José Elmar de Melo Carvalho (Campo Maior, Piauí, 1956). Discorre – como se há de verificar -, do livro biográfico “Como era bom aos domingos”, do escritor Gustavo
Fortes Said (Teresina, Piauí, 1971). Doutor em Comunicação, Gustavo Said, professor laureado da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), não se afastou das linhas verazes colocadas no livro que, em mais de trezentas páginas (328), vem mostrando as peripécias do jornalista, radialista e professor Carlos Said (Teresina, Piauí, 1931), apelidado Magro de Aço pela popularidade alcançada com reconhecimento popular. Portanto, epopeia biográfica – do começo ao fim -, justificando as prerrogativas do Elmar Carvalho.

“Enquanto esperava minha vez de ser atendido pelo oncologista e cirurgião Gil Carlos, em consulta de rotina, fui até a casa do amigo Carlos Said, que fica nas imediações da clínica. Como sempre acontece, fui recebido
com alegria e apreço pelo Magro de Aço. Entabulamos rápida conversação, em que falamos de futebol e de livros. No momento de minha chegada, estava ele lendo o livro de caráter memorialístico “Fidel e Raúl, meus
irmãos”, com depoimento de Juanita Castro concedido à jornalista Maria Antonieta Collins, que pôs imediatamente de lado, sem expressar nenhum indicativo de que ficara contrafeito com a interrupção, embora seja ele um leitor compulsivo.

“Na conversa, falamos de um antigo programa radiofônico, intitulado Reminiscências Esportivas, que ele apresentava nas manhãs de domingo na Rádio Pioneira de Teresina, em que focalizava grandes craques do futebol brasileiro e piauiense. Ouvi algumas de suas apresentações, através das quais tomei conhecimento, pela primeira vez, de importantes futebolistas. Carlos Said apresentava uma síntese biográfica do atleta, seu estilo e principais características, seu biótipo e peculiaridades, e, algumas vezes, o contexto esportivo da época. Com a sua memória fabulosa, segundo fiquei sabendo, alguns dos programas eram feitos de improviso, ou quase na base do improviso, sem titubeios, equívocos e impertinências.

“Tendo sido ele goleiro do River por cerca de duas décadas e tendo eu jogado nessa posição em minha juventude, e algumas vezes na idade madura, invariavelmente falamos nos grandes goleiros do Brasil e do Piauí. Em termos nacionais, a sua preferência recai sobre o grande e injustiçado Barbosa. Entre os principais goleiros piauienses, ele cita o Coló, do Caiçara de Campo Maior, e o parnaibano Raimundo Boi (não confundir com o Mário Boi, também golquíper e parnaibano).

Sobre os dois, já teci comentários em meu livro “O pé e a bola”, em que discorro sobre o futebol campomaiorense e parnaibano. “Entre as curiosidades e excentricidades de alguns craques, falou sobre o goleiro flamenguista Morcego, do futebol teresinense, de quem eu não ouvira falar. Disse-me ele que esse guarda-meta, ao efetuar uma “ponte” ou “voada”, encaixava a bola no peito, com o auxílio de apenas um braço, e com o outro se dependurava no travessão da “meta”, no qual, como um verdadeiro malabarista circense, conseguia fazer uma evolução e ficava de cabeça para baixo, como um morcego, de que lhe adveio a alcunha. Através do empresário e dirigente esportivo, Cesarino Oliveira soube, tempos atrás, que o grande goleiro Hindemburgo, do Flamengo, quando de ressaca, costumava repousar sobre o travessão de um
dos “gols” do estádio em que iria jogar”.



CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Greve inoportuna


Professores da rede estadual de ensino iniciam o período letivo cruzando os braços e deixando milhares de estudantes sem aula. O movimento paredista, cujo fito essencial é conseguir maiores ganhos salariais, terminará por causar dano a uma massa de pessoas cujo futuro poderia estar sendo melhor forjado em um sistema de ensino mais adequado.

Os professores reivindicam um reajuste linear de 22% sobre remunerações que no ano passado já tiveram aumento – não tão grande, é verdade, mas suficiente para, no conjunto da expansão de dispêndios com servidores, acumular 22,75% entre 2010 e 2011. Então, a greve ocorre em meio a uma conjuntura de dificuldade para o acolhimento de uma reivindicação que representará uma expansão de despesas incompatível com a receita – em processo de estagnação desde 2009.

Muito provavelmente, os dirigentes sindicais dos servidores irão esticar a corda ao ponto máximo. Ao governo, com espaço de negociação reduzido por dificuldades de caixa, não restará alternativa que não a de esperar que o cansaço tome conta do movimento dos servidores da Educação. Ruim para todos, mas pior para o alunado, que, mais uma vez, pagará a conta de uma disputa na qual suas demandas e prioridades estão longe de ser consideradas.

A greve em curso certamente não poderia ser evitada, mas possivelmente se pudesse melhorar a pauta de reivindicações – algo como incluir nas negociações pontos sobre novos mecanismos remuneratórios, que incluíssem produtividade do professor e rendimento dos estudantes em provas de avaliação nacional, bem assim em redução de indicadores como evasão e repetência.

Está-se diante de uma situação em que a concessão de reajuste salarial linear encontra uma impossibilidade financeira difícil de ser transposta. Então, é razoável que se busquem meios de garantir ganhos a maior para quem produz mais, para os professores que, graças ao seu esforço e mérito, conseguem obter melhores resultados em sala de aula.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Grécia


Não é de hoje que as pessoas ajudam as outras. Não é de hoje que governos socorrem bancos “falidos”.

Nem é de hoje que países ricos e/ou emergentes ajudam outros que por motivos outros “quebram”. O acordo alcançado entre os ministros das Finanças da Zona do Euro, com o objetivo de garantir a segunda
parcela do pacote de 130 bilhões para a Grécia, foi importante para que o país não incorra em risco de calote. “Embora o acordo elimine esse risco imediato, suspeitamos que ainda é muito aquém do necessário para garantir sustentabilidade para a dívida grega no médio prazo. Além disso, os riscos de implementação ainda continuam altos com o progresso do acordo com os credores privados, a proximidade das eleições e a necessidade contínua de executar reformas estruturais em um momento de contração econômica e a insatisfação da população”.

A principal diferença para este segundo resgate é o comprometimento legal grego requisitado para separar as despesas ligadas à dívida do país dos gastos regulares. O documento do acordo firmado entre os ministros europeus afirma que a presença permanente de uma comissão da União Europeia é essencial para monitorar e coordenar as reformas demandadas. Porém toda a comunidade do “euro”, num total de 13 países, deve ter se sentido como Troianos ao receberem literalmente este “presente de grego”. Esta questão de “socorro” por aqui na terra Brasilis já foi prontamente praticada. Lembrem-se dos PROEs da vida.

Para quem tem pouca memória: na madrugada do dia 4 de novembro de 1995, o
governo federal redigiu a Medida Provisó-
ria (MP) número 1.179, publicada no Diário
Oficial (DO) da União na segunda-feira
subsequente. O teor da MP era o que muitos dos analistas e especialistas do mercado financeiro classificaram como “solução
tardia” para a situação do sistema financeiro nacional: o Programa de Estímulo à
Reestruturação e ao Sistema Financeiro
Nacional (Proer). A medida, transitória,
veio para responder à nova realidade advinda com o Plano Real e promover o enxugamento do sistema financeiro através de
fusões entre bancos, bem como aquisições,
reorganizações societárias, e reestrutura-
ção de instituições. A medida serve tanto
para bancos de varejo (com grande número de correntistas e agências e que atendem ao grande público) que estão com problemas de liquidez como para instituições
financeiras que sonegam impostos, devem
ao Instituto Nacional de Seguridade Social
(INSS) e ao Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS), ou que estão inscritos
no Cadastro de Inadimplentes (Cadim).

O Plano Real, que entrou em vigor em 1º de julho de 1994, reduziu a volatilidade dos mercados e a inflação, de cerca de 50% ao mês antes desta data, para menos de 2% nos meses seguintes, provocando alterações exorbitantes na cultura do País. Os bancos tiveram que se adaptar à nova mentalidade e se adequar à perda da receita inflacionária (float de 30% ao mês, em média). Muitas instituições de grande porte não conseguiram se encaixar nesse novo panorama e ameaçavam uma “quebradeira generalizada”. Só não foi colocado que muitos bancos ludibriaram correntistas, desviaram o dinheiro para paraísos fiscais, declararam moratória, se diziam falidos e foram pedir “socorro financeiro”. Este PROER foi à época do PSDB e agora
que o PT fez aniversário deveria socorrer os “trabalhadores” de uma quebradeira iminente. Portanto esperemos que toda a Grécia diga em alto e bom tom: “muchas gracias”, por este presente de Euro e que
todos os gregos fiquem de A(n)tenas.



JOSÉ GREGÓRIO DA SILVA JÚNIOR
FUNCIONÁRIO PÚBLICO/PROFESSOR

Projeto autoritário


Pode-se assistir ao que se quiser, quando e onde a pessoa achar que deve ver.  O deputado José Mentor (PT-SP) é o autor de um esdrúxulo projeto de lei (5534/2009) que proíbe às emissoras de televisão em todo o território nacional, abertas ou por assinatura, “a transmissão de lutas marciais não olímpicas”, ou mais precisamente o que chama de combates físicos pessoais não reconhecidos pelo Comitê Olímpico Brasileiro. A ideia agride a lógica e a Constituição do país – que proíbe a censura.

A simples admissão do projeto – que precisa do crivo da Comissão de Constituição e Justiça para tramitar – já é bastante para declarar que o Legislativo precisa ser mais cuidadoso com as ideias de acolhe. A censura ao que quer que seja jamais poderia ser uma proposta acolhida em uma das casas do Parlamento brasileiro.

Contudo, uma vez admitido o projeto, fica patente a existência de um desejo de se criar mecanismos de censura no país. O artigo 2º do projeto do deputado Mentor estabelece que lutas marciais “não violentas”, inclusive as não olímpicas, podem ser transmitidas pela TV, “desde que essa condição [não violenta] seja previamente atestada pelo Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana”.

É ridículo que se queira dar ao estado brasileiro o direito de estabelecer o que uma pessoa adulta pode ver na TV. Pode-se assistir ao que se quiser, quando e onde a pessoa achar que deve ver. Dar ao estado o direito de determinar o que é violento ou não, o que é bom ou ruim, o que presta ou não presta é uma ideia antidemocrática, invasiva e que contraria um princípio elementar de que uma pessoa adulta tem direito de escolha, que é um direito, aliás, natural e irrenunciável.

A proibição de transmissão de lutas atingiria, claro, negócios milionários que envolvem eventos como as competições de MMA – a sigla em inglês para mistura de artes marciais. Contudo o que menos importa é que alguém vai perder dinheiro em razão de uma lei que veda a exibição de lutas na TV. Importa mesmo é que o projeto pode abrir um precedente perigoso para a censura. Felizmente, contra ideias toscas e arroubos autoritários, sempre existem remédios no Supremo Tribunal Federal.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vamos “coisar?”


Êpa, “peraí”, não é nada disso que você está pensando, estou o convidando para prestar muita atenção na palavra coisa. Veja que coisa é essa palavra. Ela é o Bombril do idioma, tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre quando nos faltam palavras para exprimir uma ideia.
Coisas do Português. Gramaticalmente, “coisa” pode ser: substantivo, adjetivo, advérbio e até verbo. O Houaiss registra o verbo “coisificar”. E no Nordeste há “coisar: Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?
  
“Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim! Coisa de cinema! A coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira fez o personagem “Coisinha de Jesus”. Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, “coisa nenhuma” vira “coisíssima”. Mas a “coisa” tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré (“Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar”), e a Banda, de Chico Buarque (“Pra ver abanda passar / Cantando coisas de amor”), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor,verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: “Coisa linda / Coisa que eu adoro”.

Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o saláriomínimo não dá pra coisa nenhuma. A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: Agora a coisa vai. Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas
coisas!

Coisa à toa. Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: “Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente”. E, no verso do poeta, “coisa” vira “cousa”.Se as pessoas foram feitas para ser amadas, e as coisas para serem usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não
compra: paz, saúde, alegria e outras coisas mais. Mas, “deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida”, cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: Amarás a Deus sobre todas as coisas. E creia, ainda tem muita “coisa” pra se dizer e escrever sobre as coisas. Que coisa, hein! Entendeu o espírito da coisa”?



LÁZARO DO PIAUÍ
ESCRITOR  

Reforma ortográfica


32.12.2012, ou melhor, 1º de janeiro de 2013. A partir dessa data, passam a valer somente as novas regras definidas na reforma ortográfica da língua portuguesa. Até lá, ainda serão admitidas como corretas as duas regras. É que a reforma, em vigor desde 1º de janeiro de 2009, disponibilizou um período transição de quatro anos para as devidas adaptações dos impressos (livros, dicionários, etc.) e para que os falantes incorporem as novas formas de escreverem o português. Escrever! Atentai bem! Porque as mudanças foram apenas na forma de escrever, de grafar as palavras (ortografia deriva dos gregos ortho = correto; e graphos = escrita). Com a reforma, alegam seus protagonistas, haverá uma maior aproximação cultural e científica entre os lusófonos e um maior prestígio internacional da língua portuguesa. É esperar pra ver.  

As mudanças ocorreram basicamente em quatro campos: 1. No alfabeto - foram acrescentadas as letras k, w e y, que agora fazem parte do nosso abecedário. Elas furam a fila e ficam entre: j k l, v w x y z; 2. No trema, aqueles dois pontinhos que em alguns casos vivem montados nas costas do u – que foi eliminado das palavras portuguesas e aportuguesadas. Palavras como linguística, ubiquidade, tranquilo agora estão livres desse incômodo, mas continue falando “lingüiça”, “ubiqüidade”, “tranqüilo”. O trema continua presente nas estrangeiras: Müller, Bündchen, essa uma brasileiríssima de sucesso nas passarelas); 3. Na acentuação (retirada dos acentos agudo e circunflexo de algumas palavras. O EI e o OI de paroxítonas perdem o acento. Antes: assembléia, colméia, asteróide; agora: assembleia, colmeia, asteroide; antes: crêem, lêem, vôo; agora: creem, leem, voo; e 4. no emprego do hífen, aquele tracinho que serve para unir sequências (não tem mais hí-
fen) de palavras, compostos, locuções e nas formações com prefixos. Agora ficou mais lógico, embora ainda confuso. Alguns exemplos: o parceiro do réu no processo (co-réu) passa a ser corréu (achou estranho? Sua companheira é corré); perdem o hífen locuções como fim de semana, mão de obra; emprega-se o hífen quando o prefixo termina com vogal igual à que inicia o segundo elemento: anti-inflamatório, micro-ondas; se as vogais forem diferentes, esqueça o hífen: extraoficial, contraindicação, semiárido, mas cuidado! Há caos em que essa regra não se aplica: pré-escolar, vice-presidente, não-agressão..

Complicou? Aí é outra história. Fica para a próxima. Um abraço!



ORISVALDO MINEIRO
AUDITOR FISCAL/PROFESSOR DE PORTUGUÊS

O risco fiscal


Há uma bomba fiscal armada em todos os estados brasileiros: o custo de pensões e aposentadorias. No ano passado, esses proventos representaram 31% dos gastos com pessoal. É um volume crescente de desembolsos, considerando ainda que houve um aumento 37% nos gastos com pessoal inativo entre 2010 e 2011.
 
Atualmente, a folha de inativos já equivale a 45% do que é gasto com salário de pessoal na ativa. A tendência é de elevação, considerando que a idade média dos servidores estaduais é elevada e que boa parte das pessoas alimenta o desejo de se aposentar o quanto antes.

Há medidas antipáticas que precisam ser tomadas, como uma reforma previdenciária estadual, necessária para aliviar a carga dos inativos sobre o Tesouro, já que a saída de pessoas da atividade na administração pública sempre representa dois gastos: o de manter os proventos de quem se aposenta e o de pagar um novo salário para quem chega para substituir o inativo.  

No âmbito federal, o governo tenta criar um fundo de pensão para os servidores. Meio para aliviar o rombo da Previdência. Contudo, partidos da própria base do governo, como o PDT, são contra a medida – mesmo que valha apenas para novos servidores. Miopia grave, porque na União como nos estados, o crescimento da participação de aposentados e pensionistas nas despesas com pessoal pode criar duas situações-limite: piora na qualidade do serviço, que já não é bom, e menor salário para quem está entrando na administração pública.

O Estado do Piauí dispõe de um fundo de previdência para seus servidores, mas a capitalização para ele nunca foi uma prioridade. Precisa ser. O tempo perdido não pode ser recuperado, mas é possível minimizar os estragos que serão causados pelo aumento das despesas previdenciárias no âmbito da administração pública estadual.  

Se nada for feito, assistiremos dentro de dez anos, talvez menos, ao Estado atingir níveis de insolvência em razão de tantos gastos previdenciários. Isso porque precisa pagar cada vez mais servidores inativos, ao mesmo tempo em que é necessário manter serviços essenciais funcionando e isso exige mais pessoal. Se a equação não fecha – e não vai fechar sem medidas duras – então sabe-se que a hora é de se agir mais técnica que politicamente.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Turismo e cidades


É muito frequente que prefeitos de cidades com potencial turístico no Piauí – elas não somam mais que 25 – reclamem da falta de apoio, de infraestrutura, de divulgação etc. A maioria das prefeituras, no entanto, sequer cuida do básico. Planos diretores, essenciais para a captação de recursos necessários a investimentos em obras de esgoto, pavimentação, limpeza e tratamento de resíduos sólidos, ordenamento de tráfego.

É triste constatar que as prefeituras de cidades com potencial turístico não percebem essa atividade se não como um meio de atrair recursos públicos federais. Pior ainda é perceber que mesmo sabendo das possibilidades que o turismo se apresenta como fonte de renda, emprego e captação de recursos tributários, muitos gestores ainda enxergam essa atividade econômica como festa.

Tomemos o caso das cidades litorâneas do Piauí. À exceção de Parnaíba, que tem uma economia maior, nas demais a pouca ou inexistente organização administrativa é uma marca recorrente. Nem mesmo a limpeza urbana, que é trabalho de todo dia, segue em uma rotina e como resultado tem-se sempre a possibilidade de o turista ter um encontro nada edificante com a sujeira.

O caso do litoral se espalha pelas cidades com potencial turístico ecoarqueológico. O descuido permanente com lixo, a falta de saneamento e a ausência de planejamento são empecilhos muito grandes para o desenvolvimento de uma atividade turística que empregue mais pessoas e seja efetivamente capaz de alterar a economia dessas cidades.

É claro que os prefeitos estão com razão quando cobram ações mais efetivas do Estado e do governo federal com o fito de apoiá-los. Porém, é difícil entender como gestores públicos querem apoio se a maioria não faz por onde, não se organiza para receber recursos, tampouco age para que suas cidades valorizem produtos que as tornam únicas – caso de praias ao lado de um santuário ecológico, o Delta do Parnaíba, ou da beleza indescritível dos parques arqueológicos e naturais do Sudeste do Piauí

Não esqueçamos Clidenor Freitas


No dia 16 de fevereiro Clidenor completaria 98 anos se vivo estivesse, pois nascido em 1913. Era paradigma da erudição, do companheirismo, da fidalguia e do cavalheirismo. Teve sempre o seu coração elevado aos páramos da pureza das ações, da humildade dos verdadeiros heróis, da invencibilidade dos fortes e da alegria dos simples.

Clidenor sempre foi um cultor do recato, pois a genialidade é irmã gêmea da simplicidade, e ele era um gênio.

Cientista da Medicina de Freud, príncipe da Corte de D. Quixote - como foi nomeado pela acadêmica Lili Castelo Branco -, literato, cérebro da cultura humanística, filantropo, parlamentar de escol, notável chefe de família, rotariano convicto e, sobretudo, amigo sincero.

Na literatura produziu obras notáveis. Ideologia como fator determinante, que bem merecia ser impresso nos quatro cantos do mundo. Ao receber a acadêmica Lili Castelo Branco na Academia Piauiense de Letras, onde foi presidente, edificou um paradigma naquele sodalício, com Hagiologia do amor amado, o seu excelso e magnífico discurso, com o qual saudou a novel acadêmica. Em Ideologia e Circunstância, doa pensamentos e raciocínios diversificados sobre temas da mais expressiva relevância no mundo cultural.

Escreveu, ainda, entre outros, A Glória de Saraiva, - Shakespeare, Criador de Símbolos, - As Bases Psicológicas do Nacionalismo. Arimathéa Tito Filho, seu grandioso par acadêmico, acrescentou: “A grande obra cívica, espiritual, científica e humana de Clidenor está no Sanatório Meduna, um dos melhores hospitais do Brasil, que serviços do mais extraordinário valor social há prestado aos patrícios. Ele o construiu lutando contra a pobreza”. Sobre o mesmo sanatório, assim se referiu seu fraterno amigo José Sarney: “O Meduna é uma instituição exemplar, pioneira, sábia, e humana”.

De seu pequenino rincão, saiu para conquistar a glória. Se tivesse nascido na França, sob um teto da alta burguesia, frequentado a Sorbonne, Clidenor seria celebridade universal. Mas a cegonha errou o endereço e o colocou, no dia 16 de fevereiro de 1913, num honrado lar de uma modesta comunidade do simplório Piauí, às margens do imortal, pujante e sereno Velho Monge, na cidadezinha de Miguel Alves. Cursou o Liceu Piauiense, doutorou-se na ciência de Hipócrates em Recife, onde se especializou na ciência de Juliano Moreira. Seu polimento intelectual passou por Balzac, Proust, Dickens, Stendal, Flaubert, Dostoievsky, Platão, Whitman, Keats, Homero, Aristóteles, Augusto Comte, Cervantes, Somerset Maughan. Deste, classifica o livro Servidão Humana como a melhor obra escrita no Século XX.

Foi apreciador da música erudita e dos pintores notáveis. Luís da Câmara Cascudo disse que “Clidenor será sempre um credor à gratidão de todos nós”. De Clidenor fui, sempre, seu humilde amigo, seu profundo admirador, companheiro rotário e acadêmico e, sobretudo, sempre fui seu fiel escudeiro. Que Deus o tenha em Sua glória.



HEITOR CASTELO BRANCO FILHO
DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Pedaços de sentimentos


O poeta, jornalista, historiador e farmacêutico B. Pestana (Benedito Pestana, Teresina, Piauí, 1906-Altos, Piauí, 1965), obtendo incentivo de amigos, escreveu o belo soneto “Lágrima”. Ganhou elogios da Academia Piauiense de Letras (data de fundação: 30 de dezembro de 1917). “Reúna-se o ouro todo do universo,/ Os ocultos tesouros e ultramares,/ Os louros cetros, e o perfume aspersos/ Do sândalo divino dos altares;/ “A melodia harmônica do verso/ Cantando longamente entre os palmares;/ Do firmamento azul, sublime e terso/ Os mais belos e alvíssimos luares;/ “Os doces beijos da mulher amada/ No tálamo do amor e do delírio/ Ao despertar da rubra madrugada,/ “Que não valem a lágrima sentida,/ - A pérola dolente do martírio,/ Da minha santa mãe terna e querida”. Esclarecemos: o inteligente literato Benedito Pestana empregou as palavras “asperso”, “terso” e “tálamo”, intuindo: “asperso”, como “respingado; “terso”, como “polido”; e “tálamo”, como “núpcia”.

O “Alvorecer da Aleartes” é uma coletânea de textos literários de sócios da “Revista da Associação de Letras e Artes” de Simplício Mendes, Piauí. Na página 22 desse importante compêndio encontramos a poesia “Destino Trapaceiro”, da conceituada poetisa Eliane Madeira Moura Fé Dantas (Simplício Mendes, Piauí,
1957.

Atualmente morando na cidade piauiense de Picos. “O destino traça,/ Esculpe, pinta, arma, borda e enfeita/ O amor/ “O destino destraça,/ Trapaça, desarma./ Aniquila e destroça/ O que pensávamos ser amor./ “O destino recompensa,/ Consola, conforta,/ Engana e ameniza/ A dor./ “O destino abandona,/ Viaja, aventurase, alonga-se./ Sana e cicatriza/ A ferida que ficou./ “O destino brinca, ensaia,/ Encurta, cruza, testa, tropeça,/ Confrontando, propositadamente/ Aquilo que restou”.

Em “Pedaços de Sentimentos”, (livro do poeta Napoleão Lustosa, publicado em 1998), filho de Gilbués, Piauí, encontramos a sua dedicação através da poesia “Ermo”. Trabalho dirigido aos queridos pais: Altair Nogueira Lustosa e Joaquim Lustosa Sobrinho (Gilbués, Piauí, 1909- Brasília, Distrito Federal, 1997, foi atuante deputado estadual, período: 1947-1951), tempo em que assinou a Constituinte do Piauí, de 1947. Acalorado debatedor de assuntos relacionados ao progresso do Piauí, se destacou no Rio de Janeiro e em Brasília como deputado federal, período: 1959-19630. “Quando do beijo à solidão/ Derrama-se em gostas lascivas/As vidas que outrora/ Eram tão vivas-pulsantes/ “Desnudando os instantes/ Sem a piedade de rasgar o peito/ Ardente de paixão/ Pela saudade – elo de loucura/ “Tendo aos olhos esperançosos/ O ofuscar do desconsolo,/; Levando aos sentidos/ A sensação do não existir/ “Estando tudo ao redor/ Na leveza do nada/ E no peso sem medida/ De estar só – sem você”.

A extraordinária escritora e poetisa Zelinda Eliza Martins Moura (Bertolínia, Piauí, 1951), no livro de poesias “Enigma!, destacou na página 83: “Um raio de Sol”. “Um raio de sol a me iluminar./ A lembrança de um sorriso brilhante/ De um gargalhar distante./ Da ternura de um girassol/ Correndo atrás do sol./ Eu sou um girassol/ Toda em tua direção./ Ao olhar tanta beleza/ Enlouqueço de emoção/ E na doçura de um momento/ Faço-te reverência, te peço perdão./ Falo-te de ilusão, que trago no coração,/ De ser na tua vida/ Um girassol brilhando ao sol/ De ser sob teu olhar/ Um carrossel de ilusões/ Girando, girando.../ Brilhando, brilhando.../ Te amando como um girassol/ Ama o sol”.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

Quatro damas britânicas


O império britânico sempre despertou paixões. Para bem ou para mal, as histórias narradas pelas paredes dos palácios da Inglaterra ao longo dos séculos, sempre renderam extraordinários argumentos para grandes filmes.

Poder, amor, traição, conquistas, sexo e história são os grandes ingredientes para constituição política da monarquia mais sólida e – supostamente – gelada do planeta. Ao longo dos séculos, quatro grandes damas britânicas se destacaram – três rainhas e uma primeira-ministra – e suas biografias cinematográficas se tornaram sucessos retumbantes e clássicos instantâneos na telona. Lançado em 1998, o filme “Elizabeth” consagrou o talento incontestável da australiana Cate Blanchett, absoluta no papel-título da obra dirigida por Shekhar Kapur. Conquistou crítica e público e lançou luz sobre o período conturbado da história britânica, no século XVI, quando a filha bastarda do rei Henrique VIII com Ana Bolena assume o trono após a morte da meio-irmã católica Maria I e dá início ao glorioso Período Elisabetano, conhecido como “A Era de Ouro”. No Oscar de 1999, Cate era a franca favorita ao prêmio de Melhor Atriz, indicada ao lado da brasileiríssima Fernanda Montenegro (“Central do Brasil”) e de Meryl Streep (“One True Thing”), Emily Watson (“Hilary and Jackie”) e Gwyneth Paltrow (“Shakespeare in Love”). A estatueta dourada foi parar nas mãos da insossa Gwyneth, uma das maiores injustiças da premiação. Apesar dos delírios brasileiros de que Fernandona teria chances, a crítica era unânime quanto ao favoritismo e merecimento de Cate Blanchett.

Em 2006, o diretor britânico Stephen Frears foi brilhante ao conduzir a produção anglo-franco-italiana “A Rainha”, protagonizada pela veterana Helen Mirren no papel de Elizabeth II em seu período de reinado mais dramático: a morte da princesa Diana e os dias que antecederam seu sepultamento, quando a monarquia da Grã-Bretanha quase caiu. A imersão da atriz na composição da personagem e sua caracterização davam ao espectador a real sensação de que Sua Majestade estava em cena. A academia hollywoodiana se rendeu à precisão e ao talento de Mirren, que faturou o Oscar de Melhor Atriz em 2007, único prêmio dado ao filme
naquela noite, apesar das seis indicações.

Ainda assim, o coadjuvante Michael Sheen foi esquecido apesar da bela interpretação do primeiro-ministro Tony Blair, o “gato sorridente e midiático”, como diria a rainha-mãe, interpretada por Sylvia Sims, outra desprezada pele Oscar. Dois anos depois, em 2009, o império britânico voltou às paradas de sucesso com o filme “A Jovem Rainha Victoria”, do canadense Jean Marc Vallée. No papel-título, a talentosa atriz britânica Emily Blunt estava brilhante – em amplo aspecto – na difícil tarefa de humanizar a poderosa e conservadora rainha, que aos 17 anos de idade viu-se diante de uma ferrenha luta por poder entre casas reais distintas e o parlamento inglês. O longa é magnífico.

Mas a bela Emily, que já tinha ganhado aplausos por suas atuações em “O Diabo Veste Prada”, 2006, e “O Clube de Leitura de Jane Austen”, 2007, foi solenemente ignorada pelo Oscar 2010, em outra incógnita decisão dos membros da academia.

Engrossando o surreal caldo dos esquecidos – que sequer foram indicados ao prêmio – estão: Rupert Friend, impecável no papel do apaixonado príncipe Alberto de Saxe-Coburgo e Gota; Miranda Richardson como a ambiciosa e possessiva Duquesa de Kent; Harriet Walter (divina!) como a rainha Adelaide; e o veterano Jim Broadbent em magistral interpretação para o senil rei William IV. Eis que, neste domingo, o Oscar de Melhor Atriz provavelmente será entregue à Meryl Streep por sua monumental interpretação da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, na produção franco-inglesa “A Dama de Ferro”, dirigida por Phyllipa Lloyd. Considerada a maior atriz de todos os tempos – 18 vezes indicada ao Oscar (venceu duas vezes, até hoje) e 26 vezes ao Globo de Ouro (venceu oito, incluindo o prêmio pelo filme atual, em janeiro). Se Meryl não levar a estatueta, teremos mais uma “oscarizada” injustiça, apesar do calibre de suas concorrentes. Por fetiche ou curiosa paixão, por controversa ironia ou esnobe ilusão, o público sempre se rende aos encantos do luxo mazelar da monarquia britânica, seja na vida real estampada nas manchetes dos tabloides, seja em seus retratos cinematográficos, em geral polêmicos por findar pela humanização de figuras tão míticas. Não por
acaso, o cinema reserva essas personagens aos astros mais brilhantes e talentosos. Cate Blanchett, Emily Blunt, Helen Mirren e Meryl Streep cumpriram com maestria a árdua empreitada de interpretar as quatro maiores damas britânicas que, cada uma em seu tempo, mudaram os rumos da história do Reino Unido e – por que não?! – da política mundial.




HELDER CALDEIRA
ESCRITOR

Mais educação e menos desigualdade


A Fundação Getúlio Vargas, em sua revista Conjuntura, edição de novembro, alerta que é a educação o meio pelo qual se pode reduzir mais as desigualdades regionais. Teria a instrução mais impacto sobre a produtividade das pessoas, de modo que isso representaria maior renda salarial. Agora, a mesma FGV disponibiliza estudo em que se comprova que a educação concorreu mais para a desigualdade social que programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

A queda na distância econômica entre variados estratos demográficos brasileiros se acelerou nos últimos 20 anos.

Segundo a FGV, entre 1994 e 2010, a pobreza caiu 67%, e mais de 50 milhões de pessoas foram incorporadas à classe média – medida por renda domiciliar mensal entre R$ 1.000 e R$ 4.500, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) DE 2009.

É inegável que essa progressão vertical de classes no Brasil tem base no aumento do salário mínimo, na estabilidade econômica que domou a inflação a partir de 1994, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, bem assim em programas de distribuição de renda – que foram, sim, importantes para manter o consumo das famílias, notadamente em regiões mais pobres e estados periféricos.

No entanto, o aumento da renda entre os pobres está fortemente relacionado ao tempo adicional de estudo da população ocupada. Isso decorre obviamente de mais oferta de instrução básica, com a universalização do Ensino Fundamental alcançada no período FHC, que sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva se expandiu para o Ensino Médio e superior e segue no mandato de Dilma Rousseff com ampliação das escolas técnicas.

Há, então, o que se celebrar, mas com alguma cautela: o país tem que melhorar a educação para que sejam mantidos os níveis de crescimento da renda pessoal e familiar. Isso implica ainda qualificar a mão de obra, ampliar a oferta de crédito para pequenos empreendimentos e, obsessivamente, se buscar – pela educação – aumento da produtividade em todos os setores da economia.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Saneamento não


O que está acontecendo com o setor de saneamento é tão grave que serão necessários três textos para mostrar que o lema do governo federal e de muitas das nossas lideranças políticas é o que dá título a este artigo. O pior é que tais agentes públicos colocam em prática esta frase sem se dar conta do que estão fazendo. O PAC é o instrumento para a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, seja com verbas onerosas ou não, sendo de fato um plano de obras que tenta renascer o vigor do PLANASA da década de 70. O PAC I e o PAC II, seguidos do recém-lançado PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico tentam montar uma ação sequenciada que faça do saneamento algo
estratégico para todos.

Do ponto de vista financeiro, apesar da derrama de recursos financeiros no setor, o PAC é tímido, pois em linhas gerais o governo federal e o mercado sabem que para universalizar o atendimento com água e esgoto, o PAC é insuficiente e tem se mostrado como tal. Os números que o próprio governo divulga atestam o descompasso entre o planejado e o executado. Mesmo assim, o PAC e o PLANAB são a luz no fim do túnel. É apavorante constatar que nem tão cedo se alcançará a melhoria efetiva da prestação dos serviços
de abastecimento de água e de esgotamento sanitário só com o PAC. A sustentabilidade do setor está em jogo há muito tempo. Não adianta executar obras e não ser possível mantê-las, operar com eficiência os sistemas implantados e garantir a qualidade dos serviços sem que companhias estaduais, departamentos municipais ou concessionários privados possam a cada dia se desenvolver gerencialmente, tecnologicamente e tecnicamente.

A negativa dos políticos e do governo federal ao setor de saneamento pode ser vista de várias formas, uma delas está na desqualificação do mesmo como fator de desenvolvimento econômico, social e ambiental. Poucas atividades empresariais e públicas possuem a capacidade de reverter benefícios para o País como o
saneamento. Como exemplo de discriminação negativa, basta verificar o recolhimento de PIS/PASEP e COFINS. Em 2002 e 2003 a alíquota básica da COFINS passou de 3% para 7% e do PIS/PASEP de
0,65% para 1,65%. O objetivo era o de sempre: arrecadar mais. Assim, as companhias estaduais passaram de R$ 968 milhões recolhidos por ano em 2002 para mais de R$ 2 bilhões em 2009. Se estes recursos voltassem para o setor seria bom e talvez com maior segurança se pudesse sair de 81% da população com acesso a água tratada, apenas 43% com coleta de esgoto e 35% com esgoto tratado.

Pois bem, recentemente, entre outras esdrúxulas isenções que há para PIS/PASEP e COFINS, foi suspenso o recolhimento destes tributos das empresas de telefonia até 2014 para que se implemente o PNLB – Plano Nacional de Banda Larga e por Medida Provisária (MPV 534/11) foi reduzida a zero a alíquota para “tablets PC” pois “eles podem aumentar a produtividade das empresas”. A presidente Dilma prometeu desonerar o setor. É pouco. O que é mais importante: ter celulares para todos, computadores com internet à velocidade europeia e tablets para todos e todas ou saúde melhor para os brasileiros? É preciso isentar as concessionárias de serviços de água e esgotamento do pagamento de PIS/PASEP e COFINS ou no futuro os tablets e a internet de banda larga terão poucos usuários, pois a maioria estará incapacitada por ter sido criada bebendo água sem tratamento e convivendo com esgotos lançados a céu aberto.



ENG. CIVIL ÁLVARO MENEZES
DIRETOR NORDESTE DA ABES

Público


O Carnaval sempre é uma festa aberta e fechada com polêmicas em Teresina – uma cidade que se ressente de não ter uma tradição de uma imensa participação popular nestes eventos de rua e por isso tem também grupos de pressão desejosos de fabricar alguma coisa que se assemelhe ao que se faz em Salvador, RecifeOlinda e Rio de Janeiro. Trata-se, no entanto, de visão equivocada sobre cultura, entretenimento e economia derivada disso.

Uma festa que se impõe não é nem nunca será popular. Popular precisa ter raízes nas comunidades – como, aliás, se percebe em diversos eventos espalhados por Teresina, que incluem desde desfiles de homens vestidos de mulher até partidas de futebol em que calções, camisetas e meiões são substituídos por vestidos femininos.

Isso, sim, é popular ou popularesco, como se queira chamar, mas é também uma legítima manifestação espontânea, à qual o poder público nada deve emprestar se não o que uma sociedade já recebe quando promove eventos públicos: segurança e logística sanitária.

Nem mais, nem menos.

Outro ponto importante na discussão é que se evite querer transformar a cidade em uma versão de outro lugar onde o Carnaval é um negócio que rende milhões. Há um erro de avaliação, porque não se olha para os públicos, mas para o umbigo, daí o equívoco.

Teresina precisa olhar para a festa de Carnaval não como um negócio, mas apenas como uma festa e ao poder público cabe, portanto, apoiar minimamente, não se esfalfar à cata de fabricar um mega-evento quando isso é absurdamente uma tolice e uma impossibilidade.

Se existem públicos diversos – inclusive os que não gostam de Carnaval e poderiam até assistir a um concerto de música erudita ou jazz – então devem-se buscar maneiras de contemplar todos esses segmentos, mas, frise-se, sem envolvimento do Erário para pagar contas de quem quer que seja.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Finanças municipai


As eleições municipais deste ano poderiam ser uma excelente oportunidade para se discutir as finanças das cidades – uma caixa preta na qual se escondem esqueletos, entre os quais passivos a descoberto ou desconhecidos. Durante muito tempo, prefeitos fizeram gestões ruinosas que resultaram em um superendividamento das cidades pelo simples descumprimento de obrigações sociais e previdenciárias.

Boa parte das prefeituras do Piauí padece de graves problemas fiscais e tem uma escrituração que não merece esse nome. Por isso, quase sempre ficam impedidas de receber recursos federais, que somente são repassados àquelas prefeituras que não estejam com dívidas vencidas.

A administração financeira bagunçada concorre para a nulidade da capacidade de investimento, mínima que seja.

Não é admissível, por exemplo, que as prefeituras deixem de recolher impostos como o IPTU e o ISS, mas isso ocorre exatamente porque a gestão das finanças municipais é bagunçada, quando não inexistente.

Há que se buscar meios para melhorar a organização financeira e administrativa dos municípios. Neste sentido, órgãos de fiscalização e controle, como o Tribunal de Contas do Estado, têm tido um papel importante. Porém, é necessário avançar mais neste rumo e uma das medidas deve ser um maior rigor do governo estadual no cumprimento dos dispositivos legais que exigem a adimplência dos municípios para que se firmem convênios.

As ações dos órgãos de fiscalização e controle, no entanto, somente serão eficientes se as populações forem mais exigentes com os gestores. Neste sentido, é preciso que funcionem melhor as Câmaras Municipais e que as Promotorias de Justiça nas comarcas sejam bastante receptivas às reclamações da população quanto aos serviços municipais. A falta ou má qualidade de serviços públicos municipais denota quase sempre um chafurdo nas finanças públicas

G.R.E.S. Nordeste


Não é novidade que o Nordeste, juntamente com suas cidades, costumes e personagens, já foi tema de enredos de várias escolas de samba do Rio de Janeiro. Até mesmo nossa atualmente abandonada Natal já foi
enredo em 1999, quando comemorou seus 400 anos. Entretanto, neste ano, houve uma verdadeira invasão do Nordeste na Marquês de Sapucaí. Nada menos que seis das treze escolas do grupo especial do Rio de Janeiro possuem temas relacionados com nossa região. É exatamente este fato que merece a nossa atenção.

Do ano de 1999 até o Carnaval de 2011, o Nordeste e seus temas relacionados foram cantados treze vezes, numa média de um tema a cada ano. Somente no ano de 1999, cinco escolas trataram do tema Nordeste. Além de Natal, enredo do Salgueiro, também destacaram o Nordeste: Grande Rio, São Clemente, União da Ilha e Vila Isabel.

Naquele ano participaram do desfile catorze agremiações.

No ano de 2002, a tradicional Mangueira foi campeã com o enredo Brasil com “Z” é pra cabra-da-peste, Brasil com “S”, é a nação do Nordeste”. Fato que já tinha ocorrido em anos ainda mais longíquos com a própria Mangueira quando venceu em 1986 (Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e Mangueira têm); e em 1995 com a Imperatriz Leopoldinense (Mais vale um jegue que me carregue, que um camelo que me derrube... Lá no Ceará).

Este ano, a atual campeã Beija-Flôr de Nilópolis homenageia São Luís do Maranhão. A Unidos da Tijuca, do sempre inovador e polêmico carnavalesco Paulo de Barros, especialista em alegorias humanas, mostra o centenário de Luiz Gonzaga. Já o Cordel Branco e Encarnado é enredo dos Acadêmicos do Salgueiro. Jorge, amado Jorge, será retratado pela Imperatriz Leopoldinense. É com as festas da Bahia que a maior
campeã de títulos do carnaval carioca, a azul e branco, Portela, tenta pôr fim ao jejum de vinte e sete anos sem títulos, o último conquistado foi em 1984. A recém promovida do Grupo de Acesso A, Renascer de Jacarepaguá, tem no pernambucano reconhecido internacionalmente, Romero Brito, a fonte de sua inspiração.

Todavia, não é apenas na quantidade de escolas que cantam o Nordeste que merece destaque, e principalmente a inclusão de instrumentos musicais (triângulo, zabumba e acordeom) como protagonistas nas baterias das escolas, deixando o papel secundário ou “para compor o visual” de outrora. Dessa vez, as baterias evidenciaram esses instrumentos, transformando o samba em forró e xote, criando “paradinhas” cada
vez mais criativas e ousadas nesses ritmos nordestinos, como verificamos na Unidos da Tijuca e Salgueiro. Com o acordeom são realizados arranjos de maneira exemplar.

A Portela reproduz toques típicos da Bahia. O samba-enredo da azul e branco já foi premiado como o melhor de 2012 pelo jornal carioca O Dia. A Imperatriz Leopoldinense ao falar de Jorge Amado não esqueceu do berimbau. Em anos anteriores, foi incluído nas baterias de escolas de samba, e para não mais sair, o timbau, instrumento marcante da cena baiana.

Isso para não falar nos termos e expressões nordestinas presentes em todos os sambas enredos das referidas escolas, tais como: “padim”, “avexe”, “cabra macho”, etc. Enfim, percebe-se que as escolas de samba se preocuparam em reproduzir mais fielmente a nossa cultura nordestina, e por isso, mesmo que você seja daqueles que acham os desfiles das escolas de samba uma verdadeira chatice, vale a pena tê-los assistido, e quem sabe até torcer para que hoje alguma escola do G.R.E.S Nordeste se consagre campeã, o que muito nos orgulharia



ALUIZIO HENRIQUE
D. DE A. FILHO
ADVOGADO

Lembranças de um bairro


No passeio da Avenida Barão de Gurgueia, em frente à Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, em meados dos anos 60 foi instalado um relógio que por um curto período funcionou normalmente, depois desandou a baladar uma hora e marcar outra, até parar de vez, numa disfunção que nos levava a dizer que ele estava “doido”.

Em todos esses anos foi várias vezes consertado, mas voltava a repetir o estranho funcionamento e em, seguida, parava.

Alegrei-me em meados do ano passado nos breves dias em que ele funcionou pois o seu baladar transportava-me para os já longínquos dias da infância e despertava emoções da adolescência.

Mas sabia que não ia durar e pensei que entre suas badaladas malucas e seus longos silêncios ocorreram demolições, mudanças, mortes.

Muitas residências tranformaram-se em pontos comerciais, vizinhos se foram, desapareceram no tempo os tipos populares do bairro: o Capelão, Bibiu da Baixa do Chicão, a velhinha do beiju de coco da praia.

O odor dos charutos de Seu Antônio Torquato não mais se espalha nas noites, não mais vimos Dona Rute a fazer palavras cruzadas, minha mãe a ler jornais e também o menininho de olhos claros que há muito tempo atrás, sentado no batente da calçada ouvia atentamente as estórias contadas pela menina da casa vizinha.

Pena que enquanto era possível eu não tenha dito:

“– Lembra, Gerardo, de como no meio da claque dos meninos da rua você gritava: ú ú ú olha o beiju de coco da praia debaixo da saia, quando a velhinha passava todas as tardes?”.

E que fim teve mesmo o Capelão?. Teria sido bom compartilharmos essas lembranças pueris de uma Vermelha pacata, perdida no tempo, mas que ainda resiste na voz de seu Antônio ao apregoar todas as tardes “Quebra Queixo ó ó ó”... e de tempos em tempos, no baladar maluco do velho relógio.




DALVA MATOS
PROFESSOR

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Limite prudencial


A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece que os gastos com pessoal na administração pública devem estar limitados a 49% das receitas. É um valor exorbitante, mas se tratou de um avanço para um país onde em alguns Estados se comprometia até 120% das receitas com salários de servidores – caso do Piauí, em
1990, no final do segundo governo de Alberto Silva (1987/1991).

Possivelmente pela elasticidade que se deu ao custeio salarial, a LRF estabeleceu um mecanismo chamado ‘limite prudencial’, que é de 46% das receitas despendidas com pessoal. Neste limite, acende-se uma luz amarela a sinalizar que medidas precisam ser tomadas para que se evite uma demasiada expansão dos gastos.

O Piauí está abaixo desse limite, com algo próximo de 43% de suas receitas aplicadas em salários de servidores. Bom seria que fosse menos, mas reajustes salariais automáticos, como o mínimo, em janeiro, e ganhos vegetativos relacionados a leis de planos de cargos e salários mantêm o custo sempre neste patamar de três pontos percentuais abaixo do limite prudencial.

A questão é que o Piauí, como boa parte dos Estados, consegue cumprir o limite de 49% ou até ficar abaixo dele porque houve um ganho de receita muito grande nos últimos tempos. Isso, claro, atiçou a sanha das corporações de servidores por ganhos salariais reais e mantém viva a disposição de ampliar ainda mais o custeio da folha. É aí que está o risco: o Estado pode viver períodos de receitas menores com uma despesa
fixa, cevada pelas vacas gordas. Isso ocorrendo, é claro que se terá o risco de um desequilíbrio fiscal. Daí porque, é evidente que é preciso não baixar a guarda.

Este ano, é quase certo que haverá uma enorme pressão por novos reajustes salariais. Neste caso, é preciso, então, conter legalmente esse tipo de demanda. Uma das formas pode ser a encontrada pelo governo federal para reajustar o salário mínimo: não se pode ganhar sobre a inflação, mas em cima da expansão econômica estadual. Se há mais receita, comporta aumento. Se não, então a lei estabelece que não se vai ganhar para que o Estado não seja prejudicado.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Sinais positivos


O Brasil segue com boas notícias em um mundo no qual a economia só tem pregado sustos e criado situações bastante embaraçosas, como o que parece ser uma intervenção do mercado na formação de um governo na Grécia, para atendimento dos interesses dos bancos. Para este ano, espera-se um crescimento econômico para além dos 2,79% no ano passado, de acordo com o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC), uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB).

O desemprego recua. Mês passado, chegou a 5,5% nas seis regiões metropolitanas cobertas pela pesquisa
do IBGE. O índice é superior ao de dezembro (4,7%), mas foi o mais baixo para o mês nos últimos dez anos.

Agregam-se a essas duas boas notícias o grau de confiança da indústria no crescimento da economia.

Neste mês, a Confederação Nacional da Indústria apurou que o índice de confiança do empresariado cresceu, em relação a janeiro, quando já se tinha aferido aumento. Embora o índice seja menor que de um ano atrás, esse novo ânimo parece combinar com os indicadores do BC e do IBGE, bastante positivos.

Com a atividade econômica ampliada pelo aumento do salário mínimo, é bastante provável que 2012 seja um ano de melhores resultados econômicos que 2011. Isso porque tem sido o consumo das famílias um dos responsáveis pela manutenção de uma atividade econômica acelerada no Brasil, o PIB deve se expandir a uma taxa maior que a do ano passado.

Mesmo com tantos bons sinais de crescimento  da economia, é sempre recomendável não descuidar de ações de controle dos gastos públicos, bem assim de medidas que estimulem a atividade econômica em todos os ramos, sobretudo naqueles que concorrem para gerar mais empregos e resultem em mais dinheiro ingressando na economia do país, como o setor exportador.

Alguma felicidade


Às vezes, sinto-me um pouco culpado por ter a felicidade de poder olhar nossa Xuxu deitadinha em sua manta, dormindo serena, sem sentir dor, sem se lamentar por quase não enxergar, por ouvir muito, muito pouco, por quase não ter mais faro.

O mundo lá fora anda conturbado, mas nossa pinscher de dezessete anos – quase cem anos em idade de humano – é um bálsamo que ajuda a curar as feridas e traz ternura aos nossos corações. Nossas filhas já estão adultas, têm a sua própria vida, já saíram do ninho, mas Xuxu continua aqui, a nossa eterna criança.

É curioso que, nessa história dos filhotes que deixam o ninho, Xuxu também sente a falta deles, como se fossem os filhotes dela. Minha filha Daniela está em Lisboa, fazendo um Mestrado, mas Fernanda está mais perto, em Ribeirão Preto, onde mora com o marido. Então é mais fácil nos visitar, ainda que não muito frequentemente. Ela, Fernanda, veio passar o Carnaval aqui e Xuxu fez a maior festa ao vê-la chegar. Não desgrudou mais dela e, quando ela saiu, ficou dormindo enrolada em uma manta da filha.

É uma coisa de química, de alma, sei lá, porque mesmo enxergando muito pouco, não sentindo cheiros e ouvindo quase nada, Xuxu reconheceu Fernanda imediatamente. É uma coisa que não dá para explicar, é apenas para se aceitar.

Xuxu esteve muito doente, recentemente, pensamos até que a filhota não ia mais encontrá-la quando chegasse. Mas ela foi medicada e está comendo bem de novo, está se recuperando e os analgésicos não deixam que ela sinta dor.

É bem verdade que é difícil enganá-la, escondendo o remédio na comida, mas até agora estávamos conseguindo que ela comesse. Hoje ela recusou a comida com remédio. Vamos ver como é que fica. Porque é muito triste ter que segurá-la para colocar o remédio na sua boca e fazê-la engolir. Ela é muito forte, apesar da idade e, às vezes, uma pessoa só não consegue segurá-la.

A verdade é que o veterinário nos disse que não é recomendável segurá-la com força, porque podemos quebrar algum osso dela, pois ela tem reabsorção óssea. De qualquer maneira é preciso deixá-la com muita
fome para ela aceitar a comida com o remédio misturado, pois ela deve perceber o gosto diferente, não muito agradável. E é tão importante que ela coma, quanto que tome os remédios, para ficar bem e para sair latindo pela casa, como se tivesse apenas quatro
ou cinco anos.

Xuxu está velhinha, velhinha, mas ainda é a nossa bebê. Somos privilegiados por tê-la conosco, ainda, e isso nos faz feliz. Mais felizes ainda por ter nossa filharada por perto, ainda que esporadicamente.



LUIZ CARLOS AMORIM
ESCRITOR

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Nossos pertences


“Um homem morreu intempestivamente ... Ao dar-se conta, viu que se aproximava dele um ser muito especial que não parecia nenhum ser humano, levava uma maleta consigo e disse-lhe: Bem amigo, é hora de irmos... Sou a morte. O homem, assombrado, perguntou: já?... Tinha muitos planos para breve... Sinto muito, amigo, mas é o momento da partida. O homem não se conteve e perguntou: o que trazes na maleta?. E a
morte respondeu-lhe: os teus pertences. Os meus pertences? São as minhas coisas? As minhas roupas? O meu dinheiro? Os meus carros? E minhas terras?. Não amigo, as coisas materiais que tinhas nunca te pertenceram, eram da terra. Trazes as minhas recordações? Não, amigo, essas já não vêm contigo, nunca te pertenceram, são do tempo.

Trazes meus talentos? Não, amigo, esses nunca te pertenceram... Eram das circunstâncias. Então trazes os amigos e os meus familiares? Não, amigo, eles eram do caminho. Trazes então a minha mulher e meus filhos? Também não, eles nunca te pertenceram, eram do coração. Trazes o meu corpo? Não, amigo, esse nunca te pertenceu, é propriedade da terra. Então com certeza trazes a minha alma? Não, amigo, a tua alma, ela nunca
te pertenceu também, era do universo. Aí então o homem cheio de medo, arrebatou a maleta, abriu-a e deu-se conta que ela estava completamente vazia.

Com uma lágrima de desamparo a correr dos seus olhos, o homem disse à morte: nunca tive nada?. Tivestes sim, meu amigo, os momentos que vivestes foram teus, a vida é só um momento... Um momento todo teu. Desfruta-o na totalidade. Vive agora, seja um homem bom pra todos e não te esqueças de ser feliz”.

É capaz de você também ter recebido um email desses e não ter lido por ser um tema tão batido. Mas esse negócio de morte, comportamento, avareza são pra mim, que sou cantador e contador de histórias e estórias, temas interessantes que merecem ser reprisados porque sempre existem uns desavisados que fazem ouvido de mercador para a voz da vida que a toda hora diz: nada é teu, por que então te achas melhor do que o teu semelhante? Por que pisas, ofendes, humilhas, principalmente aos menos favorecidos?.

E foi exatamente pela história acontecida com um ex-vigia meu que lembrei-me de tocar nesse assunto, para
lembrar a quem interessar possa, que da vida não levamos mesmo nada.

Conta ele que trabalhou na casa de um “barão”, como ele diz no seu simples linguajar, e que nunca foi tão humilhado numa casa como a desse sujeito. O que tinha de rico, tinha de arrogante. Disseme ele que o homem, e a família toda, era mais bruta que os “pés da burra”. Do alto de suas propriedades, carros e aviões, o homem nem pisava mais no humilde chão de todos nós, nosso lençol final. Com poucos meses que ele havia sido demitido soube que o homem tinha morrido de repente. Ele confessou pra mim que ficou triste porque tinha sentimento, mas pena não sentiu não. Foi até o velório, afinal, mesmo com toda ignorância dos integrantes daquela família, ele tinha trabalhado nove anos pra eles, até porque, precisava muito daquele serviço. Foi mesmo só para dar os pêsames. Mas ao chegar na sala, a filha do homem perguntou: o que você faz aqui, Zé? Alguém te convidou? Parece mentira, uma pergunta dessas, numa hora dessas. Aí ele me disse que baixou os olhos, deu meia volta, deu vontade de falar, mas não falou. Me afirmou que só pensou em voz baixa.”Eu só queria ver mesmo se tinha, e se tinha, qual era o tamanho das gavetas do caixão dele, para ver como ele tinha conseguido agasalhar tudo que era seu, lá dentro”. É...



LÁZARO DO PIAUÍ
ESCRITOR

“São Pedro se há=prece”


O Capitão de Campos, Capitão Gervásio Oliveira e o Coronel José Dias em uma Boa Hora, quando da Alvorada do Gurgueia, resolveram fazer uma União embasados num Bom Princípio e imbuídos de uma grande Batalha, pois o Barro está Duro, colocaram-se em uma Corrente pra frente e foram pedir Socorro a Todos os Santos do Piauí, que são muitos, e ao querido Bom Jesus que é um grande Beneditino(s) com a permissão Papal, já que temos um Pio IX, um Dom Expedito Lopes, Dom Inocêncio e um Monsenhor Gil, a Caridade de enviar Fartura aos municípios com seca, pois após uma Queimada Nova, ficaram sem nenhum Olho D’Água e antes que tudo vá para o Brejo, pois todas as Lagoas estão secas, deixando os Patos do Piauí com sede numa Ilha Grande, não tendo Água Branca e nem pura e que até o Riacho Frio secou, ficando todos no Morro Cabeça no Tempo de fome e que o único Padre Marcos da região precisa de Regeneração e Redenção já apelou a Hugo Napoleão para enfrentar todas as Barras e Barreiras do Piauí. Mas para que o nosso Piauí tenha mesmo um Bonfim, confia mesmo é em São Pedro, para que deixe uma Passagem Franca para todas as águas e não só encher o Tanque do Piauí, o Boqueirão, o Caldeirão Grande como regar também as Flores do Jardim do Mulato, do Cocal, Cocal de Telha, Cocal dos Alves, a Palmeira do Piauí, o Pau D’Arco, as Pimenteiras e num grande córrego desça para o Porto e o nosso Piauí tornese uma grande Floresta, uma Agricolândia, um Alegrete, um Alto Longá, um Monte Alegre, passando a ter um Campo Maior, Campo Largo, um Campo Grande, um Campo Alegre de algum Fidalgo, uma Bela Vista, umas Campinas não uma Várzea Branca e sim uma Várzea Grande, se não a nossa Valença será rezar para
Nova Santa Rita que deve ter uma Mão Santa para colher uma safra de muitos Cajueiros da Praia, vários Jatobá(s) do Piauí, uns Murici(s) dos Portelas para virarem um imenso Castelo Nas áreas (Nazária) de todo o Piauí e que o IBGE coloque no seu anuário que o nosso Estado está nos Picos mais Altos e que toda a nação Brasileira saiba que podemos ir além das nossas Fronteiras e nos tornemos um Novo Oriente e uma Vila Nova.




JOSÉ GREGÓRIO DA S. JÚNIOR
PROFESSOR/ ESPECIALISTA EM LITERATURA BRASILEIRA

O Código Sanitário


O Estado conta, desde o começo deste mês, com um novo Código Sanitário, que contempla a saúde sob todos os seus aspectos. Há avanços como o estabelecimento em lei do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – Cerest – e novidades positivas, como os estudos de impacto de obras sobre a saúde das comunidades.

O código ainda precisa ser conhecido, a começar pelos profissionais de saúde. Porém, é direito dos cidadãos conhecer essa legislação, porque ela é fundamental na vida das pessoas. Daí porque deveria o governo estadual preocupar-se em dar ciência da nova lei a todos os piauienses, fazendo-a não somente conhecida.

O conhecimento da lei é importante porque é a partir dele que se vai gerar demandas da sociedade. Dois exemplos: a qualidade da água e o tratamento de resíduos sólidos. Nos dois casos, esses são direitos sanitários que precisam ser respeitados. Então, é essencial que as pessoas conheçam essa lei para que elas possam fazer valer seus direitos.

Outro ponto fundamental da lei é que pela primeira vez um marco regulatório reconhece a distribuição de água potável, o saneamento, coleta e tratamento de resíduos sólidos como componentes da saúde pública. No Brasil, estranhamente, os investimentos e o custeio nessas áreas não entram na conta da saúde. Uma bobagem dos que se acostumaram a ver saúde como gasto hospitalar.

Os avanços do Código Sanitário, felizmente, desmentem a visão de saúde como um ato ambulatorial, ação curativa ou coisa que o valha. As ações preventivas felizmente têm muito mais espaço neste marco regulatório, fazendo crer que a ação do poder público estará direcionada no sentido de fazer menos hospitais e trabalhar mais por saúde.

Como atualmente há no comando da Secretaria da Saúde uma profissional que claramente está disposta a trilhar os caminhos da prevenção, a chegada do novo Código Sanitário deve ser saudada como uma oportunidade de o Piauí tornar-se um Estado exemplar nessa área.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Novas regras para publicidade médica


O mês de fevereiro do corrente ano traz mudanças significativas para a classe médica brasileira, já que na última quarta-feira (dia 15) entrou em vigor a resolução 1974 do Conselho Federal de Medicina (CFM) , exatamente 180 (cento e oitenta) dias da sua publicação, para disciplinar as novas restrições aos médicos e
instituições quanto a comunicação com seus pacientes.

Até então essa comunicação e publicidade médico-paciente (consumidor) era regida por resolução do ano de 2003 e desde então os meios de comunicação, principalmente virtuais, sofreram algumas transformações significativas, fazendo-se necessária ampliação de vedações.

Com essa nova situação, as principais mudanças trazidas pela nova resolução são:a vedação de oferta pelo médico de serviços de consultoria por telefone ou internet em detrimento da consulta presencial; proibição do uso das redes sociais para angariar clientes; a proibição do anúncio de títulos de pós-graduação que não sejam correlacionados com sua especialidade e a extensão expressa das vedações aos sindicatos e sociedades médicas.

As novas vedações trazidas pela resolução do Conselho Federal de Medicina procuram equilibrar a acirrada disputa de pacientes, baseada na publicidade muitas vezes ofensiva aos pacientes, e um serviço médico de qualidade, que jamais pode ser deixado em segundo plano.

Neste cenário de grandes mudanças das regras de comunicação médicopaciente, faz-se necessário que todas as clínicas, hospitais e médicos tenham uma assessoria eficaz a fim de evitar alguma ação de responsabilização perante os órgãos da classe.

“As novas vedações com certeza repercutirão no cenário médico. O que no primeiro momento pode parecer uma restrição a classe médica na sua comunicação com paciente pode se revelar um ato de proteção aos profissionais éticos e profissionais que priorizam a saúde dos seus pacientes, em detrimento daqueles que
tentam angariar clientes a qualquer custo”, defendem os advogados atuantes na área empresarial médico-hospitalar.

Como as mudanças entraram em vigor agora, ainda não existem muitas fontes de pesquisa sobre o tema, porém é de livre e fácil acesso o site do Conselho Federal de Medicina que dispõe de todas as resoluções editadas pelo órgão.



ALEX NORONHA DE CASTRO MONTE
ADVOGADO

Drenagem inadiável


Teresina viveu na noite de quinta-feira mais uma sucessão de alagamentos e enxurradas em ruas e avenidas, sobretudo na zona Leste. Carros foram arrastados, ruas ficaram intransitáveis por horas, pessoas ficaram retidas em razão da força das águas e montanhas de lixo se formaram após as águas baixarem.

A recorrência com que essas situações se repetem soma-se ao aumento do volume e força das águas. Desde que áreas antes não habitadas acima de bairros como o São Cristóvão, Fátima, Noivos, São João, Jóquei Clube, Ininga e Horto foram sendo ocupadas, ampliou-se o perímetro impermeabilizado por vias e construções, mas não cresceram na mesma proporção os sistemas de drenagem.

O resultado do aumento das áreas impermeabilizadas e do não crescimento das galerias de escoamento de águas pluviais pode ser notado a cada chuva maior em todas as regiões de Teresina. E isso tudo tem a ver com decisões administrativas equivocadas ou orientadas para resultados imediatos ou inadequados à cidade.

Não há números fáceis sobre o quanto se investiu em drenagem na cidade de Teresina, mas sem risco de se cometer injustiça com os prefeitos que antecedem ao atual se pode dizer que foi pouco ou insuficiente. Isso se diz sem o risco do erro porque basta ver as centenas de pontos de alagamento na cidade após uma chuva – por menor que seja.

Sendo uma grande chuva, vê-se que a situação é ainda mais grave.

Em boa hora, a Prefeitura de Teresina anuncia que vai iniciar, em março, as obras de uma grande galeria na zona Leste, onde a situação tem se agravado nos últimos anos. Obra já licitada e que vai custar algumas dezenas de milhões de reais, ficará sob a terra e certamente não vai ser vista. Contudo, sem dúvida será sempre uma obra lembrada, porque vai pôr fim a um tormento de décadas para as populações dos bairros atingidos por enxurradas e alagamentos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O poder dos probióticos


Os estudos correlacionados à participação dos alimentos e as doenças humanas são de longa data. Podemos citar vários ganhadores de Prêmio Nobel de Medicina, como exemplo Ivan Petrowich Paulou (Fisiologia da Digestão), Otto Heinrich Warburg (1883-1930) que defenderam a tese de que uma alimentação não fisiológica, baseada em alimentos acidificantes e o sedentarismo criam em nosso organismo um ambiente
propício à proliferação de células atípicas e, como consequência, evolução para células neoplásicas, tese que é atualmente analisada com respeito, embora se saiba que as doenças e especialmente o câncer é de origem genética, ambiental e epigenética (multifatorial), e que outros fatores além de nutrição e sedentarismo estão relacionados a sua origem.

Em 2005 os australianos Barry J. Marchall e J. Robin Warren descobriram a bactéria Helicobacter pylori e seu papel em gastrites e úlceras. A manipulação da flora está se tornando uma estratégia realista preventiva e
terapêutica para muitas doenças infecciosas, inflamatórias e até neoplásicas dentro do intestino. Sabemos hoje que o intestino humano abriga mais de 400 tipos de bactérias entre boas e más, e que a vida humana seria absolutamente inviável sem essa flora microbiana e outros agentes que são conhecidos como Biofilmes. Se o organismo der uma pequena oportunidade, as bactérias mais nocivas ocupam esse espaço de 8 metros de comprimento do intestino mais do que as boas e causam um desequilíbrio no bom funcionamento não somente intestinal (absorção de nutrientes, além de causar alergias e intolerâncias e até mesmo doenças crônicas em outros órgãos).

Os probióticos compreendem cerca de 20 bactérias diferentes e os produtos disponíveis atualmente são compostos de até 6 tipos desses microorganismos. Cada dose contém 1 bilhão de bactérias. Um exemplo
são os grupos bifidobacterium e lactobacillos. O consumo de probióticos diariamente, quer seja através de alimentos (leites fermentados ou iogurtes sem lactose) ou em fórmulas manipulados em pó ou em cápsula
promove um equilíbrio na microbiota intestinal favorecendo a: fortalecimento das defesas do organismo (imunidade); produção adequada de vitaminas do complexo B; melhor absorção de cálcio (importante aos ossos) e ferro; auxiliar na síntese dos precursores hormonais (controle do colesterol); importantes em dieta dos pacientes com intolerância à lactose porque aumentam a enzima que digere o açúcar.

Porque e quando devemos utilizar probióticos?. Como prevenção (manutenção da saúde orgânica);durante e após uso de antibióticos; em patologias ginecológicas, urológicas, intestinais e outras Infeccionais; viagem (a
maior parte das bactérias que causam diarréia são destruídas pelos Bifidobactérias e Acidófilos; em tratamento para colesterol elevado (Hipercolesteremia); doenças crônicas; em alergias e intolerância alimentares (incluindo intolerância à Lactose). Lembrar que em algumas doenças, como por exemplo no autismo, estudos na área de nutrição (especialmente) intolerância à lactose estão sendo cada vez mais valorizados, como também em patologias da tireóide e outros, daí a importância do equilíbrio de microbiota intestinal através de uma alimentação equilibrada desde a infância.



DR. GINA ZORINA
MASTOLOGISTA/GINECOLOGISTA

Estrela cadente


A escritora e poetisa Maria Nerina Pessoa Castelo Branco (Teresina, Piauí, 1935), ao receber o título de “Professor Emérito” do Conselho Universitário da Universidade Federal do Piauí (a solenidade foi realizada no dia 16 de janeiro de 2012), proferiu palavras de agradecimento. “Esta vitória foi a mais bela da minha vida. Não quero minimizar as honrarias deste mundo, mas comparando-as com a fortaleza da Fé, com o abandono aos ditames de Deus, elas se tornam frágeis, porém, não deixam de somar pontos àquilo que Deus permite. Assim, vejo as coisas visíveis e penso as invisíveis. Se pudesse tudo da vida seria belo. A beleza seria uma constante e o homem ficaria ligado ao Eterno para sempre”.

O escritor Gilvanni Carvalho de Amorim (São João do Piauí, Piauí, 1959), presença garantida no panteão literário piauiense, jamais alterou os sentimentos da saudade prazenteira desde que escreveu “Relatos da Aldeia”. As lembranças da Lagoa Grande situada em São João do Piauí, presente dos céus, fazem aparecer estórias e lendas.

Dizem que é encantada. Gilvanni tem acrescentado em suas conversas diárias: “Na beira da lagoa, jaz um bloco de pedra conhecido como Pedra Caída. Reza a tradição que dentro dele estão guardadas muitas riquezas, e que para abri-lo, é preciso achar a chave do segredo, escondida n’algum recanto das águas. Há pescadores que sonham puxar na rede a tal chave encantada”.

Já Diego Mendes Sousa (Parnaíba, Piauí, 1989), poeta laureado no Brasil e em vários países (um deles, a Espanha, na Península Ibérica, Europa (Portugal também faz parte dessa porção de terra cercada de águas por todos os lados, menos um, pelo qual se liga a outra terra), colocou no livro “Fogo de Alabastro”, a sua maneira concreta de poetar.

“O cheiro o quarto/ A chama ametista/ Dos olhos/ Sombra e muitos vultos deslumbrados/ O apego e o mel/ Da fêmea/ Contemplados/ “Vários ventos/ De amor/ Embarcados/ Para o delírio/ Viagem e partida/ Eternidade”. Esclarecemos: Diego Mendes Sousa empregou a palavra “ametista” a fim de significá-la pedra semipreciosa, variedade roxa do quartzo que é um mineral trigonal que se apresenta em numerosas variedades, também denominado cristal de rocha, quando é duro e transparente.

Em Campo Maior, progressista cidade piauiense, eis que a poetisa Maria de Jesus Andrade Paz encanta pela singeleza dos versos colocados na peça literária “A Estrela Cadente”. “Equilíbrio, força e gravidade/ Se chocam no ar./ Em espirais se contorcem/ Os meteoros reluzentes./ As tais estrelas cadentes,/ Lépidas, bailam em queda livre./ “Suspiros de esperança veloz/ Vislumbra nos olhos de quem vê/ O espetáculo, riscando o céu,/ Rasgando nuvens,/ O véu do firmamento/ “Um pensamento,/ Um pedido,/ Um apelo silencioso./ A esperança de um sonho realizado!/ A emoção!/ Uma quimera./ “Quem dera. Quem dera,/ Não passasse tudo/ De uma explosão fatal ,/ Que esfacela a estrela/ Só quimera./ Quem dera, quem dera”.

O repentista Pedro Costa (Pedro Nonato da Costa (Alto Longá, Piauí, 1962), num rasgo de sabedoria inconteste, desafiou o conjunto do que se produz no Universo, independentemente da intervenção refletida ou
consciente...

“Fazemos desafios/ Contra os sujões do lixo/ O homem é o pior bicho/ Que agride a terra e os rios/ Nos dá medo e arrepios/ Com esses inventos seus/ Comportamento de ateus/ Na prática são criminosos/ Será que esses poderosos/ Se acham mais que Deus?




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

O horror burocrático


A burocracia é um dos piores males a assolar o Brasil. Como praga, devora dezenas de bilhões de reais em recursos dos setores público e privado, ampliando o déficit do governo e onerando os custos de bens e serviços fornecidos pela iniciativa privada.

Essa praga inferniza a vida das pessoas, torna menos competitivas as empresas brasileiras, cria dificuldades para vender facilidade e gerar espaços de poder para um crescente número de pessoas que nada fazem após se aboletarem atrás de um balcão, armadas com um carimbo e a crescente indisposição de resolver os problemas de quem lhes paga o salário.

Mesmo sendo uma endemia perniciosa que contamina as estruturas administrativas e impõe procedimentos cheios de bolor, que sempre ampliam os gastos e os custos, a burocracia segue sem que se consiga pôr fim a ela. Nem mesmo ações para torná-la menos poderosa têm sido bem-sucedidas. O Brasil chegou a criar um Ministério da Desburocratização, que terminou engolido por essa máquina de enlouquecer pessoas.

No Brasil, o simples ato de fazer uma matrícula em uma instituição pública de ensino pode se transformar em uma provação de escalas bíblicas, tais as exigências da maldita e custosa burocracia. Tanto pior quanto o autor das barreiras burocráticas é um ser inanimado ou uma instituição sem rosto como um sistema de computação ou uma série de protocolos que o dogmatismo autárquico impede que sejam quebrados.

O cidadão que paga impostos compulsoriamente, diante deste monstro, nada pode fazer. Sequer reclamar lhe é possível, porque a burocracia impõe barreiras cada vez mais fortes para quem quer demandar contra o serviço público – que tem a seu favor o dobro de prazo que um mortal comum dispõe no Judiciário brasileiro, que também não é um exemplo de eficácia burocrática.

O brasileiro que trabalha cinco dos 12 meses do ano para pagar impostos diretos e indiretos merece pelo menos um pouco de respeito. Uma vez que a burocracia existe para atormentar e encarecer a vida do cidadão, seria um pequeno favor dos que se aboletam em guichês na administração pública agir com mais urbanidade, dar respostas menos evasivas sobre as razões que levam o serviço público deste país a tratar pessoas como párias sociais aqueles que financiam a nação.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

32 anos: o PT não é mais o mesmo


Alguns petistas constatam este fato em tom de lamentação. Outras pessoas fazem esta afirmação em tom de denúncia. De minha parte, tendo vivido estes anos todos como petista, constato com alegria que o partido mudou. A alegria não resulta de uma visão idealista segundo a qual o PT seria hoje um partido sem contradições e problemas.

Na verdade, penso que o PT sempre teve seus problemas. A alegria resulta da convicção de que o PT foi capaz de ajudar o Brasil a mudar para melhor e se deixou influenciar pela sociedade brasileira na mesma medida, reduzindo assim o seu doutrinarismo autoritário e passando valorizar a democracia como valor estratégico e não apenas tático.

A legitimação do partido, que já dependeu demasiadamente de seu atrelamento a pautas de reivindicação de segmentos organizados, muitas vezes de caráter corporativista, hoje se liga mais à capacidade que o partido tem demonstrado de melhorar a vida de todas as pessoas por meio de sua ação institucional no parlamento e no executivo.

Com o PT forte no parlamento e no governo, o Brasil vive uma era de resgate da dignidade do seu povo. É um país que enfrenta seus problemas, se faz respeitar no cenário mundial e consegue melhorar a vida por meio de políticas econômicas bem geridas e de políticas sociais que reconstroem os serviços públicos e melhoram a distribuição de renda.

Há problemas sim no PT. Dentre eles eu destaco o excessivo peso das tendências internas no dia a dia do partido, determinando muitas vezes certo esvaziamento das instâncias partidárias.

Este é um problema que teremos que enfrentar nos próximos meses, colocando as tendências em seu devido espaço e fortalecendo as instâncias (executiva, diretório, encontro, congresso), que devem ter efetivo poder de decisão e funcionamento regular de acordo com o estatuto do PT. Mas sou um otimista militante.

Tanto o Brasil vai continuar mudando para melhor, como o PT será capaz de domar suas contradições e, assim, seguirá mudando com o Brasil.



MERLONG SOLANO
SECRETÁRIO DAS CIDADES

Tântalo e os donos da cidade


Tântalo é um personagem da mitologia grega que fora condenado a morrer de fome e sede, tendo água e frutos ao seu alcance sem poder tocá-los. Daí dizerse o mesmo daquele que não pode usufruir das riquezas e bens que o rodeia. Assim está o povo de Teresina, privado do gozo dos bens de sua cidade, porque impostores a esbulharam para suas patuscadas empresariais, sem o mínimo pudor e respeito ao povo. De tantos pontos de estrangulamento da liberdade e dos direitos, permitam-me agitar algumas indignações: da Frei Serafim, da burocracia, da tributação, dos ônibus.

A Avenida Frei Serafim é o principal corredor de ligação entre o Centro de Teresina e a zona Leste. É também a principal via de acesso aos polos de saúde e de educação e cultura da capital. Por isso, tudo deve ser feito para tornar essa via o mais livre possível, alargamento, viaduto, pontes, mas não reforma apenas de tinta. No governo passado, a prefeitura gastou uma fortuna para criar mais uma pista de cada lado, removendo poste, placas, quebrando calçadas etc. O efeito foi sentido de imediato por todos os usuários diuturnos da avenida. Todos, ônibus, táxis, carros de passeio, motos e até bicicletas deslizaram mais lépidos.

Mas eis que, recentemente, a prefeitura houve por bem instituir a faixa exclusiva para ônibus, ou muito mais. Dividiu ao meio a avenida: metade para os ônibus e metade para todos os demais usuários da via pública. O resultado todos testemunham: voltamos para pior que nos tempos d’antanho. Fica ensardinhada a banda de todos e ociosa a banda do Setut (o sindicato dos empresários de ônibus), que já vencera um reajuste de vinte centavos em cada passagem e obtiveram exoneração de tributo municipal, quando o metrô de São Paulo, após três anos, teve um reajuste de apenas dez centavos. Ora, vê-se que a intenção levou em conta quinhentos ônibus por hora na avenida, quando não passam quinhentos por dia. Os automóveis se multiplicam, é o povo tendo acesso a eles, os ônibus não aumentam e, aliás, tendem a diminuir. A conta foi
mal feita, por quem não usou a massa cerebral. Não custa nada reconhecer o erro de cálculo e devolver a avenida ao povo, a todos os teresinenses e ilustres visitantes. Até porque ela foi arrebatada dos legítimos donos sem prévia consulta popular.

Jelinek vaticinava que o Estado é uma forma institucionalizada e armada pela qual os mais fortes impõem seu jugo aos mais fracos. Graça Aranha, de modo mais dramático, protesta que as leis, nascidas de fontes impuras para matar a liberdade fecunda, não exprimem o novo direito; são o escudo perturbador do governo e da riqueza. Os exemplos cotidianos são cada vez mais eloqüentes de opressão do Poder público contra os cidadãos. Temos uma tributação de país socialista e um serviço público de país pré-capitalista. Pagamos
quase 40% do PIB de impostos, no entanto, temos que bancar ainda a segurança particular, a escola privada, o plano de saúde, o transporte de automóvel, à míngua de transporte público decente. A Federação
brasileira, de quase seis mil unidades federadas, não cabe no PIB, causando a dívida pública. É muito Poder público e pouco serviço público.

Sabem por que a maioria das construções são piratas? Vá à prefeitura licenciar uma obra e verá. É o órgão do meio ambiente, o do patrimônio histórico e cultural. Do lado federal, tem que licenciar a obra perante o INSS, o Crea, o Ministério de tudo. Ao fim, o dinheiro da casa escoou pelos ralos da burocracia. O funcionário, frio, indiferente e sádico se deleita em impor ao cidadão um rosário de procedimentos ocos, que só servem para consumir tempo, dinheiro e torrar a paciência. Restituam a cidade aos legítimos donos, não a
afundem na mediocridade, na frouxidão das drogas, do álcool e da prostituição, no usufruto de poucos e dos bu(r)rocratas de plantão. Indignai-vos, porque enquanto um homem sofrer algo, toda a humanidade estará em causa!




FRANCISCO METON
MARQUES DE LIMA
PROFESSOR DA UFPI E DESEMBARGADOR DO TRT/PI

Exemplo democrático


O Partido dos Trabalhadores está promovendo um debate interno, mas aberto ao público, sobre se terá ou não candidato a prefeito de Teresina. Trata-se de uma atitude bastante saudável em um sistema político muito acostumado aos acordos de bastidores e no qual o PT sempre foi um diferencial – embora atualmente não mais o seja, já que lá, como em outras agremiações partidárias, tem prevalecido o desejo das cúpulas.

Enquanto em Teresina o PT discute e vai bater chapa em torno de teses diferentes sobre a participação no pleito, em São Paulo, ignorando o protagonismo e a liderança da senadora Marta Suplicy, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez prevalecer sua vontade, emplacando o nome de seu ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato a prefeito.

O que ocorre em São Paulo, no entanto, pode não somente ser um espelho, mas também uma regra em que dirigentes e caciques do partido se fazem impor. Há claros sinais de que isso possa ocorrer. Dois líderes da tendência majoritária no PT, Wellington Dias e Merlong Solano, têm dado sinais de que o poder das tendências internas não pode se sobrepor às instâncias partidárias – diretórios, executivas e convenções.

Solano, deputado estadual, fez chegar via redes sociais, sua posição de que as tendências internas ofuscam e sufocam as instâncias partidárias. Ora, essa observação se dá justamente quando aparentemente existe a prevalência de forças internas pró-aliança com o prefeito Elmano Férrer (PTB), candidato à reeleição.

O que parece justo, portanto, é que um rito democrático cada vez mais incomum no sistema partidário brasileiro seja respeitado. Muito embora esta seja uma questão bastante interna do Partido dos Trabalhadores, pontualmente situada no diretório municipal de Teresina, ela pode conter em si uma excelente lição de democracia.

É sempre alvissareiro que as escolhas sejam feitas da maneira mais democrática possível, porque isso estimula a que as pessoas acreditem mais em um sistema no qual todos podem ter alguma chance, por menor que seja. Frustrar, porém, essas expectativas, causa dano grande e difícil de recuperar no edifício democrático.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Bury-Açu


O dedicado escritor José Luiz de Carvalho (Buriti dos Lopes, Piauí, 1956), pesquisador devotado, ao escrever “Bury-Açu, o Espírito do Brejo (Contos, Casos e Lendas)”, deixa indelével a sua fecunda inteligência.

Ao buscar a qualificação no respeitante a letras, no “Bury” (do tupi “bu´ri”), analisou o significado da palmeira que vive de preferência no litoral (o Piauí, possui uma faixa litorânea de, aproximadamente, 66 quilômetros). “Açu” (do tupi “wa´su”), significa: grande, vasto, considerável. Assim, os contos, casos e lendas contidos no seu formidável livro demonstram que, em qualquer lugar baixo onde há nascentes, olhos d´água, cacimbas, os espíritos vagueiam à procura de advertências ou condenações. Então, e através da imaginação e inteligência, José Luiz de Carvalho confeccionou os “Contos, Casos e Lendas”. Extraindo – por fim - os mitos que se condensaram em lutas, sacrifícios, anseios, desejos, alegrias. Condição humana ou sobrenatural em exemplos verificados nas cidades. Reverberando o meio ambiente, inclusive o profundo do viver na área rural.

O livro é mais do que uma referência para pesquisas sobre a língua tupi e costumes dos primitivos habitantes do Piauí, além do linguajar simples dos piauienses. Evidentemente, peça genuína da literatura sertanista. Sem faltar os instantes indianistas. Como se vê no Capítulo V: “O Morro Gemedor da Ilha Grande de Santa Isabel. Ressalto do amor de “Intã” e “Ará” na convidativa Praia do Sal, cenário único no Delta das Américas (existe a felicidade nas relembranças dos encantadores versos esmiuçando o valor da Pedra do Sal: “Águas mansas, águas bravias./ Oh!

Pedra do Sal de noites frias.../ Refúgio dos amantes...”).

As recordações do final do ano 1801, ainda indestrutíveis, mostram a fuga dos Tremembés, índios que habitaram a parte mais alta da fértil região, assanhados que foram pelo rugido da tempestade que se abateu
sobre o belo local. O homem branco, “Ará” (do tupi “a´rá”, significação de arara (do tupi “a´rara”), ave de grande porte, cauda longa e bico muito forte. Habita o cimo das maiores árvores, onde comem e dormem) e,
“Intã”(variação de “Itá” (do tupi “i´tã”, significação de utensílio polido em forma de concha servindo de ornato nas urnas funerárias dos povos indígenas que habitaram o litoral piauiense. Geralmente encontradas nas praias brasileiras), abraçados e ungidos pelo fervoroso amor que lhes serviram desde o primeiro instante, foram arrastados e metidos debaixo da terra por ondas gigantes de água e lama vindas do oceano Atlântico.
Uma lenda enternecedora, rediviva a todo instante (se assim desejarmos). Uma tradição popular oriunda da historicidade piauiense no concernente aos povos indígenas que viveram no Piauí (exterminados foram pela fúria dos colonizadores. Nos episódios do devassamento da terra).0 Consequentemente, “Ará” e “Intã”, é imaginação poética do amor puro envolvendo duas pessoas que se amaram com lealdade. E foram tragadas pelo destino trágico anunciado.

Para o rabiscador em questão, o escritor José Luiz de Carvalho com jaez sertanista (e ressalto indianista), autêntico personagem do panteão literário piauiense, se encontra merecedor de encômios porque participa duma linguagem limpa e compreensível. E como pertencemos à classe professoral manejando fatos e episódios da nossa admirável literatura, aconselhamos que se faça justiça ao proveitoso desempenho do autor do livro “Bury-Açu, o Espírito do Brejo”.


CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

Depende de cada um


A Polícia Rodoviária Federal vai iniciar na sexta-feira a Operação Carnaval, mais uma iniciativa que a corporação toma em feriados nos quais há gigantescos deslocamentos de pessoas por todo o país. Trata-se de um esforço para reduzir acidentes e salvar vidas.

As operações da PRF são sempre superlativas, com números impressionantes. Neste ano, vai mobilizar quase todo o efetivo, tendo até suspendido férias e folgas. Serão usados helicópteros e 1,8 mil bafômetros, além de radares para flagrar excessos de velocidade. Tudo em nome da segurança das pessoas.

Mesmo diante de um aparato que resguarda o cumprimento da lei, ainda assim nenhum esforço de um organismo policial será capaz de substituir a responsabilidade de cada um ao dirigir, conforme reconhece a própria Polícia Rodoviária Federal, que recomenda a prudência e o respeito à lei como os mais importantes mecanismos de segurança durante as viagens em rodovias federais ou em quaisquer vias terrestres pelo país.

No ano passado, com todo esse aparato, houve 166 mortes e 1.783 feridos em 3.029 acidentes nas rodovias federais durante o Carnaval. Os óbitos podem ser até mais, porque a contagem dos mortos se dá nos locais de acidentes e certamente há pessoas que falecem após serem levadas feridas para hospitais.

Infelizmente, não se pode ter esperança de que apenas a mobilização da PRF e das polícias estaduais resulte em números mais positivos. Não é a vigilância e a preocupação do governo que serão responsáveis por menor número de mortos e feridos nas estradas. Fazer cair a quantidade de sangue derramado em estradas depende de cada um, resulta da escolha de dirigir com prudência, de não beber antes de pegar no volante, de somente pegar a estrada se estiver em condições físicas para tanto, se fizer a adequada revisão do veículo.

Espera-se das pessoas a capacidade de entender que o ato de dirigir não é uma competição e que, portanto, elas não precisam necessariamente chegar antes dos outros; ou ainda se quer que o motorista entenda que atos de irresponsabilidade – como beber antes de dirigir – consistem em um crime e que isso pode causar mortes. Tais atitudes é que farão com que somente o Carnaval acabe em cinzas, não centenas de vidas.